Visita inesperada e o choque de uma revelação proibida
Cheguei à casa da minha filha sem avisar e descobri o que nunca quis saber.
Às vezes, acreditamos que a felicidade está na saúde e na estabilidade dos nossos filhos. Considerava-me sortuda: um marido amoroso, uma filha já adulta, netos adoráveis. Não éramos ricos, mas a nossa casa transbordava harmonia. O que mais poderia querer?
A Leonor casou-se jovem, aos vinte e um anos, com um homem de trinta e cinco. Não protestámos: ele tinha um emprego estável, um apartamento em Lisboa, um carácter tranquilo. Não era um estudante irresponsável, mas sim um rochedo. Pagou tudo o vestido, a lua-de-mel no Algarve, os presentes luxuosos. A família murmurava: “A Leonor encontrou o seu príncipe.”
Os primeiros anos foram idílicos. Nasceu o Tomás, depois a Beatriz, mudaram-se para uma casa em Sintra, fins de semana em família Aos poucos, porém, a Leonor foi-se fechando. Os sorrisos desapareceram, as respostas tornaram-se evasivas. “Está tudo bem,” dizia, com uma voz vazia. O meu instinto materno sabia que não.
Uma manhã, sem conseguir aguentar mais, ligo-lhe. Silêncio. Mando uma mensagem lida, sem resposta. Entro no comboio para Sintra. Surpresa, digo-lhe quando chego. Era mentira.
Ela assusta-se ao abrir a porta. Nenhuma alegria, apenas constrangimento. Refugia-se na cozinha. Brinco com os miúdos, preparo o jantar, fico a dormir. Nessa noite, o marido chega tarde. Um cabelo loiro preso no casaco, um perfume estranho. Beija-a sem vontade. Ela desvia o olhar.
De madrugada, levanto-me para beber água. Na varanda, ele sussurra ao telemóvel: “Em breve, minha querida Ela não sabe de nada.” O copo treme-me na mão. A náusea aperta-me a garganta.
Ao pequeno-almoço, confronto-a: “Tu sabes?” Ela baixa os olhos. “Mãe, deixa disso. Está tudo bem.” Descrevo o que vi, o que ouvi. Ela repete, como um mantra: “Ele é um bom pai. Dá-nos tudo. O amor passa.”
Tranco-me na casa de banho para chorar. A minha filha já não passa de uma sombra cúmplice. Troca a dignidade por bolsas da Luís Onofre e férias no Algarve.
À noite, enfrento o genro. Ele encolhe os ombros: “Não a deixo. Pago as contas. Ela prefere ignorar. Meta-se na sua vida.”
E se eu lhe contar tudo?
Ela já sabe. Fecha os olhos.
Choque. No comboio de volta, sufoco. O meu marido implora: “Não insistas, vais perdê-la.” Mas já a perdi. Ela apaga-se, dia após dia, ao lado desse homem que colecciona amantes.
Rezo para que, uma manhã, em frente ao espelho, ela se lembre de que merece mais. Que a honra vale mais do que o dinheiro. Que pegue nos filhos e vá embora.
Eu? Ficarei aqui. Mesmo que ela me afaste. Uma mãe nunca desiste. Mesmo quando a dor lhe arranca o coração.